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2015texto e imagem: Bernardo Rebello
Brás Cubas, como grande parte da obra de Machado de Assis, é caracterizado por possuir a ironia como forma de expressão literária. Nesse caso a ironia é mais explícita pois trata-se de um defunto autor que, por estar morto, já não tem qualquer preocupação moral com comentários que possam ferir os bons costumes ou as regras de etiqueta. Um exemplo disso é o momento em que o narrador, o próprio Brás Cubas, descreve a situação em que encontrou o deputado Lobo Neves na Câmara dos Deputados. Machado utiliza esse momento para discorrer sobre o cinismo disfarçado nas convenções da vida política da época e as situações contrastantes a que os homens de vida pública se submetiam, para alcançar seus objetivos.
No caso do trecho do encontro de Brás Cubas com Lobo Neves, este, o orador, guardava ressentimento daquele, pois, ele havia tido um caso com a esposa de Neves. Como defunto autor, Brás Cubas expõe ao leitor a contradição de seu comportamento nessa ocasião, onde ele age com certo remorso, mas que, em verdade, era apenas uma encenação para que sua conduta fosse digna de alguém que pudesse, no futuro, ser considerado para o cargo de ministro. Ele não sentia culpa, mas, sim, desejo por mais poder.