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2015texto e foto: Bernardo Rebello
O mundo contemporâneo está em processo de transformação considerável. A ascensão dos países emergentes, sobretudo no contexto da crise economica de 2008, como possíveis representantes de uma alternativa para abrandar os efeitos financeiros negativos desse período demonstram que há , cada vez mais, a necessidade de reavaliar a limitada participação dos países em desenvolvimento no processo decisório internacional. O governo brasileiro possui uma estratégia clara, no que concerne às mudanças de paradigma que deseja observar em prática, e condizente com a realidade de interdependência sistêmica .
O fato de o Brasil estar em crise interna não significa que não há continuidade de uma grande estratégia política de longa continuidade. A ênfase no multilateralismo, característica dos governos posteriores ao regime de exceção, possibilitou a criação de organizações internacionais regionais, como a CELAC e o MERCOSUL, incentivou a criação de grupos como o BRICS e legitimou o engajamento brasileiro na reforma da ONU no que concerne à adesão permanente do Brasil no Conselho de Segurança. Essas ações são exemplos da estratégia brasileira, que, por intermédio de políticas revolucionárias, busca, a longo prazo, a correção de assimetrias históricas no âmbito das Relações Internacionais.
É evidente que a estratégia brasileira encontra desafios para obter êxito. Um deles é a baixa qualificação profissional de grande parte de seus cidadãos. Essa característica é fator substantivo para a análise das motivações que provocam disputas partidárias e a falta de continuidade de políticas externas em diferentes governos. A educação é propulsora do desenvolvimento, e, sem ela, não há possibilidade de manutenção de conquistas sociais. Programas como o Ciência sem Fronteiras fazem parte do esforço do Estado em investir em mão de obra qualificada e oferecer oportunidades de mobilização social para indivíduos com menor poder aquisitivo. Esse tipo de política reforça as credenciais do Brasil para convencer os países mais desenvolvidos a transferir conhecimento e favorecer a integração.
A conjuntura interna afeta profundamente a política externa do Brasil. Em um contexto de crise, as prioridades adequam-se, por um lado, às possibilidades do momento, o que influencia a continuidade estratégica de determinados avanços, por outro lado, não há transformação em uma sociedade sem que haja conflito e luta. A redemocratização do Brasil e o fim da Guerra Fria propiciaram maior aproximação entre governo e sociedade civil, o que possibilita participação mais efetiva da sociedade e afeta a formulação de políticas externas. O fortalecimento da democracia nacional legitima a estratégia brasileira que também visa a maior participação de países menos poderosos no contexto das Relações Internacionais.
É importante ressaltar que, apesar das rupturas e das instabilidades internas no Brasil, houve avanços que só poderiam ser obtidos por intermédio de uma estratégia elaborada e de grande dimensão. A habilidade para solucionar, de forma pacífica, as controvérsias internacionais, a maneira de inserção legitimista que busca evitar antagonismos no contexto externo e o pragmatismo brasileiro também são formas de demonstrar que há um pensamento maior na condução da política externa do país de maneira que haja distância entre o contexto interno e as ações externas. A criação do G-20 para substituir o G-8 como principal fórum de discussões macroeconômicas não exigiu pelo Brasil a extinção do grupo mais seleto. Isso comprova a abordagem principiológica do governo brasileiro em buscar alternativas de integração autônomas e mais democráticas.
As disputas partidárias no Brasil, dificilmente, deixarão de influenciar as políticas externas do país. Existe uma relação entre a consolidação democrática, no âmbito doméstico, e a busca da multipolaridade e da institucionalização do multilateralismo, no contexto externo. A grande estratégia brasileira, no que concerne à sua política externa, é revolucionária e deve ser implementada com paciência e planejamento, de maneira a garantir avanços contínuos, sem que, para isso, seja ameaçado tudo aquilo que já foi conquistado na história contemporânea pela atuação diplomática de um país que possui legislação constitucional para embasar sua atuação no âmbito das Relações Internacionais.