A crise, a educação e a possibilidade de oportunidades

 

texto e imagem: Bernardo Rebello

O contexto de crise mundial iniciou-se em 2008, nos Estados Unidos, e é observado atualmente, no Brasil. A crise do capitalismo é resultado de confrontos de culturas distintas e da ganância dos mais ricos. A disputa pelo poder, a incapacidade sistêmica de fornecer empregos à população crescente e a desigualdade de renda, concentrada sob o domínio seleto dos grandes financiadores do desenvolvimento mundial, são fatores preponderantes no desencadeamento da atual conjuntura. É preciso que as principais lideranças do mundo se conscientizem de que é necessário um crescimento mais sustentável, com menos conflitos, mais distribuição de renda e, principalmente, mais educação.

A abertura descontrolada de créditos hipotecários para cidadãos de baixa renda, nos Estados Unidos, com uma legislação de pouco controle desses financiamentos, expôs ao mundo os riscos sistêmicos à economia global do comprometimento de altos investimentos sem que haja garantias de liquidez. A ilusão de adquirir um imóvel, gerada pela ganância de capitalistas, levou os pobres à ruína financeira, desempregou funcionários de bancos que faliram com a crise, concentrou a renda das primeiras parcelas hipotecárias sob o domínio desses especuladores e desencadeou um processo de crise global. Os efeitos dessa chamada “bolha financeira” desdobraram-se em manifestações políticas em diversos continentes e desencadeou um processo de mudança, mesmo em países mais conservadores, como são os do norte da África.

No Brasil, a crise instalou-se com a insegurança gerada pelas impactantes mudanças no contexto internacional contemporâneo. Os abalos na União Europeia, a primavera árabe, os conflitos no Oriente Médio e o arrefecimento do crescimento chinês são exemplos das mudanças que ocorrem em âmbito internacional e que incapacitaram o governo brasileiro para combater a inflação, sem atrapalhar a produção de bens e de serviços. Em decorrência disso, o Governo começou a colocar em prática, em 2014, uma série de políticas anticíclicas que tinham o objetivo de proteger a economia doméstica.

O aumento do déficit primário, consequência dessas políticas, descapitalizou o Governo e prejudicou a continuação dos investimentos públicos sociais no país, o que contribuiu para o aumento da quantidade de manifestações públicas de protesto em 2014 e em 2015. Somado a isso, a crise política desencadeada pela corrupção na PETROBRÀS, o aumento na cotação do dólar, os crescentes índices de desemprego e o baixo consumo doméstico foram sinalizadores de que as mudanças mundiais demandam mais atenção por parte dos brasileiros. É difícil saber se a situação brasileira estaria diferente caso a “bolha financeira” não tivesse desencadeado a crise global, o fato é que, quando se atinge a liderança de qualquer movimento, sua ideologia é questionada.

As diferenças das mudanças que ocorrem no mundo em relação à crise do Brasil é que, por ser um país privilegiado no que concerne a sua posição e dimensão geográfica, seu comportamento pacífico e suas reservas naturais, o país ainda tem a capacidade de gerar muita esperança para seus nacionais. O governo brasileiro não é belicoso, é conhecido por sua parcimônia e capacidade de encontrar soluções pacíficas e consensuais. O país possui dimensão continental, baixo nível demográfico e é detentor de uma das maiores reservas naturais do planeta. Essas riquezas e características são valiosas em uma sociedade que tem a intenção de promover mudanças que visem a um desenvolvimento mais sustentável.

O compromisso em satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras, é o ideal e princípio renomado do “desenvolvimento sustentável”, conceito registrado pel primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU. Não há como aproximar-se desse ideal em um mundo que não preze pela divisão mais equânime de suas riquezas, que não ofereça oportunidades de capacitação profissional a seus habitantes e em que países ainda resolvam seus conflitos de interesse pela guerra e violência. Com a revolução tecnológica e sua democratização do conhecimento, o poder político nunca antes possuiu maiores possibilidades de fazer frente ao financeiro.